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Minha paixão por duas rodas começou ao acaso. Meu pai sempre teve receio com motos, mesmo assim quando eu tinha uns 6 anos ele pegou uma Pandinha emprestada e me colocou num circuito oval para ver se eu tinha algum “talento”. Aquilo foi demais, lembro da adrenalina de andar com uma “bicicleta motorizada”. Nesse mesmo dia, outros 2 pilotos da minha cidade entraram no circuito e andaram atrás de mim. Fiquei meio assustado e me prendi no acelerador. A moto não parou e eu levei um tombo daqueles. Nem preciso dizer que foi só esse o contato, não ficamos com a motinha. Então desisti da idéia.

Cresci vendo treinos do meu amigo Douglas Parisi (Duda). Como ele conseguia saltar tão alto? Como ele dava aquelas entortadas? Ele andava muito rápido, aquilo era perigoso, eu nunca ia fazer aquilo. Alguns amigos, empolgados com o Duda, acabaram comprando motos também. Lembro que o Gui tinha uma CR 80. Aquela moto roncava muito bonito, era demais. Não arrisquei pedir emprestada, fiquei só vendo eles andarem.

Mais ou menos em 2004, quando eu tinha 16 anos, meu pai apareceu com uma DT 200 ano 94, em casa. Não consegui acreditar que ele tinha comprado. Uns amigos convenceram que trilha não era perigoso, que era divertido e que a velocidade era baixa. E ele se apaixonou. Eu acabei empolgando e quis fazer trilha também. Como tínhamos somente uma moto nós acabamos dividindo as trilhas, ele começava, eu pegava a moto na metade e ia até o fim. Não demorou e ele comprou uma DT 180 para mim. Começamos andar juntos com a turma de trilheiros da minha cidade. Não conseguia acabar uma, a moto sempre quebrava. Com o tempo meu irmão quis uma também, e mais uma moto apareceu em casa. Agora tínhamos uma XR tornado do meu pai e duas DTs um pouco mais novas para eu e meu irmão. Daquele época em diante não paramos mais. Minha primeira moto importada foi uma Husqvarna 250 ano 2001. Ela andava demais. E o medo de velocidade começou diminuir.

Em 2005 competi em algumas provas do campeonato gaúcho de Enduro FIM. Nem acreditava que estava andando com os melhores do Estado. Meus resultados não foram os melhores, ainda assim curti demais. Em 2006 arrisquei competir todo o Campeonato. Porém antes da primeira etapa, que seria na minha cidade, bati de frente com um piloto que andava na contramão do trajeto da prova. Resultado, quebrei o pé e infelizmente tive que adiar minha participação. Em 2007 ganhei minha primeira moto zero Km, uma Yamaha WRF 250.

Como eu já estava um pouco mais rápido, em 2008 resolvi arriscar uma etapa do brasileiro de Enduro FIM. Fui com uns amigos de Caxias do Sul para a cidade de Bueno Brandão, cidade do tão falado Nielsen Bueno. Lembro que comentavam que ele e o Felipe Zanol eram pilotos muito rápidos e disputavam a ponta do Campeonato. Eu só pensava, esses caras devem andar demais, quero muito ver isso de perto. Lembro que o clima dos dias anteriores à prova era intenso, muitos pilotos, equipes, reuniões, etc. Tudo muito novo pra mim, e eu ficava admirado. Larguei no primeiro dia, minha moto estava falhando e não consegui achar o problema, mas como eu já estava lá resolvi seguir mesmo assim. No fim do dia, para minha surpresa, eu havia ganhado a Categoria para motos de 250cc e havia ficado no quarto lugar da classificação geral. Nem preciso falar da minha emoção, não conseguia nem acreditar. Liguei pra casa empolgado. Logo começaram vir mensagens de amigos me parabenizando. Foi tudo perfeito!

No domingo larguei junto com os ponteiros, do meu lado Felipe Limonta (piloto oficial Suzuki), e à frente o piloto Husqvarna Nielsen Bueno. Era um sonho para mim largar junto com esses caras. Fiquei muito nervoso e o domingo não foi bom, errei e fiquei pra trás, terminando como segundo na somatória do fim de semana. Eu estava satisfeito de qualquer forma. Nesse mesmo ano veio a segunda lesão, quebrei a perna num passeio, foi um tombo à toa, e não consegui fazer mais nada depois.

Em 2009 comemorei meu primeiro título estadual de enduro, que se repetiria depois em 2010, 2014, 2015 e 2016. Em 2012 resolvi fazer a primeira etapa do brasileiro de enduro. Não fui bem, mas como a segunda etapa era perto de casa participei também, e venci a categoria E-2 (antiga 250cc). Então, resolvi fazer todo Campeonato. Foi um ano espetacular, disputei o título até, a última especial da última etapa, com o piloto Gas Gas Rigor Rico, e fui campeão, além de ser o quarto colocado geral. Nesse mesmo ano fiquei campeão Gaúcho de Cross Country na categoria principal. Meu pai e meu amigo Tebaldi fizeram todo campeonato brasileiro comigo. Eles foram campeões também. Não conheço outros registros de um ano, em que 3 pilotos da mesma cidade foram campeões nacionais, foi um ano único.

Com o embalo do título entrei em 2013 com tudo. Porém algumas más escolhas me atrapalharam. Tive péssimos resultados, além do desânimo de não ter nenhum patrocinador, mesmo sendo campeão. Resolvi parar, tinha desistido de tudo.

No início de 2014 recebi um pequeno incentivo para voltar. Animei com aquilo e resolvi competir de novo. Meu auge foi como melhor brasileiro na etapa do Íbero Americano que aconteceu em Minas Gerais, largando lado a lado com ninguém menos que Eero Remes, que seria campeão mundial no ano seguinte. O ano de 2015 foi o melhor ano pra mim: fui vice-campeão brasileiro, campeão sul brasileiro, campeão da EFX, campeão estadual de enduro e Cross Country. No início de 2016 recebi um telefonema que mudaria as coisas. O chefe de equipe Nielsen Bueno me ligou pedindo se eu estaria interessado em integrar a equipe. Claro que aceitei na hora. Estava realizando um sonho, andar por uma equipe oficial. Porém, minha felicidade durou pouco, 15 dias depois quando estava participando de uma etapa do sul brasileiro acabei quebrando o tornozelo. Achei que meu ano iria por água abaixo, mas continuei na equipe. Comecei as competições bem atrasado, perdendo algumas etapas. Porém dei a volta por cima e ganhei alguns campeonatos.

Minha história se deu entre altos e baixos, mas sempre com muita vontade e esforço. Não tive um professor ou alguém que me ensinasse como andar, aprendi muito sozinho. Fui atrás de cursos, assisti vídeos, li matérias, me virei como podia para tentar ser bom. Não penso em parar agora, mas nunca se sabe o que acontecerá no dia seguinte, e uma coisa é certa, até quando eu puder e tiver condições, não paro de andar de moto.

Fotos: Cedidas pelo Diego