Eu nasci andando de moto.
Meu pai, Gilberto, competia de MotoCross. Minha mãe, Regina, andava de moto e é super fã do nosso esporte. Comecei a competir no MotoCross aos 7 anos de idade, numa etapa do Mundial em Campos do Jordão em 1987. Fazia pouco tempo que meu pai tinha me dado a moto, uma PW 50 e eu fui para a largada muito apreensiva mas ao mesmo tempo tranqüila, afinal estava apenas me divertindo com o que eu mais amava! Fiquei em 1º lugar entre as meninas e 9º lugar entre os meninos, e eram muitos!
Dois anos depois, meu irmão, Ramon, que na época tinha 5 anos, começou a competir também. Nunca mais paramos! Hoje ele é cinco vezes Campeão Brasileiro de Rally, um super piloto e grande exemplo para mim.
Nos anos 90, meu pai foi convidado por um amigo para participar na equipe técnica das primeiras edições do Rally dos Sertões, de moto é claro. Ele foi algumas vezes e eu sempre acompanhava as largadas, assistia aos vídeos e ficava imaginando que coisa incrível deveria ser aquilo – atravessar o Brasil de moto, pela terra e competindo? Uau! Eu quero ir! Mas eu era muito nova e não podia. Então, aos 15 anos de idade, decidi que eu seria a primeira mulher a correr o Sertões de moto, e comecei a rezar para que nenhuma outra fizesse isso antes de eu completar 18 anos, tirar habilitação e poder correr.
Minhas preces foram atendidas e em agosto de 1998 (depois de muuuuuuuito trabalho, algumas decepções e enfrentando preconceitos, mas com patrocínios suficientes), eu era a única mulher (menina né) entre os pilotos de moto largando a noite em frente ao estádio do Pacaembu em São Paulo. Meu pai pegou a moto dele e foi atrás de mim.
Foi uma aventura de outro planeta! Foi aquilo tudo que eu imaginava e até mais. Minha moto era inadequada e lenta, teve etapa de 800km que levou umas 14hs pra concluirmos. Poeira, ponteira quebrada, road book quebrado, ponte quebrada, ombro quebrado... Mas era andar de moto, conhecer lugares, pessoas, pilotar em situações que eu nunca tinha enfrentado, e nunca tinha navegado antes. E mesmo com ombro quebrado (e o pai com o coração quebrado do susto), subi de novo na moto e completamos o rally! Esse rally virou até um livro – “Com minha filha pelas trilhas dos Sertões”, de autoria do meu pai, Gilberto Sacilotti.
Até hoje, já corri 16 vezes o Rally dos Sertões e todas as temporadas do Brasileiro de Rally desde que foi criado no ano 2000. Sou piloto profissional, pela Kawasaki. Mas também sou uma pessoa “normal”, formada em fisioterapia mas trabalho na empresa da família com segurança patrimonial. Treino com a moto somente aos finais de semana. É uma empreitada conciliar trabalho e competições. Todos os dias saio correndo do escritório as 11hs para a academia e volto ao trabalho após o almoço. De vez em quando faço um complemento do treino no fim da tarde, mas isso é muito raro acontecer, porque ainda tenho marido, casa e cachorros!
Por falar em marido, o Rodolfo é um cara incrível! Ele pratica muitos esportes, desde skate, surf, mountainboard, mountainbike (todas as modalidades), joga rubgy, faz crossfit e é claro, anda de moto. Às vezes fazemos umas trilhas juntos, mas ele curte mesmo uns passeios mais longos e viagens com a 800cc. Também é fotógrafo e já me acompanhou em algumas edições do Sertões e outros rallies.
Para mim não existe nada melhor no mundo do que andar de moto. Uso uma scooter no dia a dia e isso torna meus deslocamentos muito mais agradáveis. Gosto de todo tipo de moto, mas se puder ir pela terra vou ficar muito mais feliz. Adoro treinar com a Kawasaki KX250F, levinha, dá pra fazer o que quiser com ela! Mas também amo pilotar minha Kawasaki KLX450R de rally que é mais pesada, estável e me leva muito mais longe. De tudo que se pode fazer com uma moto, o que eu mais gosto mesmo é correr rally. Hoje, 17 anos depois do meu primeiro Sertões, ainda me encanta a possibilidade de desbravar o Brasil de moto, e competindo – o que é ainda mais interessante.
E quando alguém me pergunta quando eu vou parar, a resposta é: nunca! Ou pelo menos enquanto eu sentir esse frio na barriga antes de cada largada, sentir a alegria indescritível de cada chegada, e tiver condição física para enfrentar todos os desafios que existem entre esse dois pontos, vou continuar a correr rally.
A temporada 2015 ainda não terminou mas minhas classificações estão definidas: mais uma vez sou Vice-Campeã Brasileira de Rally Crosscountry (categoria Over 45) e Vice-Campeã Brasileira de Baja (categoria Production Aberta). Ah! Em 16 anos de campeonato, sempre fui a única mulher.
Quero agradecer a minha família por mais esse ano de dedicação ao nosso esporte, meus pais e o Rodolfo sempre fazendo tudo que for possível para nos ajudar. O Ramon, meu companheiro de equipe, de viagens, e meu maior exemplo de piloto. Minha treinadora Vanessa da Matta. Minha equipe de apoio mecânico Dionízio Carlos e Podium Racing. E meus patrocinadores Kawasaki, Rinaldi, Alpinestars, Red Dragon, FAS, Stocovich.
Moara Sacilotti
Confira abaixo fotos da carreira de Moara Sacilotti
Créditos: Arquivo Pessoal Piloto/Divulgação.